sábado, 6 de junho de 2009

Pedagogia da Autonomia


Por: Walter
Paulo Freire (1996). Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 165 p.Review by Claudilene Sena de Oliveira Kerber (CELES). (First appeared in: La Salle: Revista de Educação;, Ciência e Cultura/Centro Educacional La Salle de Ensino Superior (CELES) v. 3, n. 7, (Outono de 1998). Reproduced with permission.)


Freire introduz Pedagogia da autonomia explicando suas razões para analisar a prática pedagógica do professor em relação à autonomia de ser e de saber do educando. Enfatiza a necessidade de respeito ao conhecimento que o aluno traz para a escola, visto ser ele um sujeito social e histórico, e da compreensão de que "formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas" (p.. 15). Define essa postura como ética e defende a idéia de que o educador deve buscar essa ética, a qual chama de "ética universal do ser humano"(p. 16), essencial para o trabalho docente.Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, da decisão, da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo-nos como sujeitos éticos (...) É por esta ética inseparável da prática educativa, não importa se trabalhamos com crianças, jovens ou com adultos, que devemos lutar (p. 17 e 19).Em sua análise, menciona alguns itens que considera fundamentais para a prática docente, enquanto instiga o leitor a criticá-lo e acrescentar a seu trabalho outros pontos importantes. Inicia afirmando que "não há docência sem discência" (p. 23), pois "quem forma se forma e re-forma ao formar, e quem é formado forma-se e forma ao ser formado" (p.25). Dessa forma, deixa claro que o ensino não depende exclusivamente do professor, assim como aprendizagem não é algo apenas de aluno. "Não há docência sem discência, as duas se explicam, e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender" (p. 25).Justifica assim o pensamento de que o professor não é superior, melhor ou mais inteligente, porque domina conhecimentos que o educando ainda não domina, mas é, como o aluno, participante do mesmo processo da construção da aprendizagem.Segue sua análise colocando como absolutamente necessário o rigor metódico e intelectual que o educador deve desenvolver em si próprio, como pesquisador, sujeito curioso, que busca o saber e o assimila de uma forma crítica, não ingênua, com questionamentos, e orienta seus educandos a seguirem também essa linha metodológica de estudar e entender o mundo, relacionando os conhecimentos adquiridos com a realidade de sua vida, sua cidade, seu meio social. Afirma que "não há ensino sem pesquisa nem pesquisa sem ensino" (p. 32). Esse pesquisar, buscar e compreender criticamente só ocorrerá se o professor souber pensar. Para Freire, saber pensar é duvidar de suas próprias certezas, questionar suas verdades. Se o docente faz isso, terá facilidade de desenvolver em seus alunos o mesmo espírito.O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres históricos, é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer o mundo (...) Ensinar, aprender e pesquisar lidam com dois momentos: o em que se aprende o conhecimento já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente (p.31).Ensinar, para Freire, requer aceitar os riscos do desafio do novo, enquanto inovador, enriquecedor, e rejeitar quaisquer formas de discriminação que separe as pessoas em raça, classes... É ter certeza de que faz parte de um processo inconcluso, apesar de saber que o ser humano é um ser condicionado, portanto há sempre possibilidades de interferir na realidade a fim de modificá-la. Acima de tudo, ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando.O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros (...) O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que "ele se ponha em seu lugar" ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência (p. 66).É importante que professores e alunos sejam curiosos, instigadores. "É preciso, indispensável mesmo, que o professor se ache repousado no saber de que a pedra fundamental é a curiosidade do ser humano" (p. 96). Faz-se necessário, portanto, que se proporcionem momentos para experiências, para buscas. O professor precisa estar disposto a ouvir, a dialogar, a fazer de suas aulas momentos de liberdade para falar, debater e ser aberto para compreender o querer de seus alunos. Para tanto, é preciso querer bem, gostar do trabalho e do educando. Não com um gostar ou um querer bem ingênuo, que permite atitudes erradas e não impõe limites, ou que sente pena da situação de menos experiente do aluno, ou ainda que deixa tudo como está que o tempo resolve, mas um querer bem pelo ser humano em desenvolvimento que está ao seu lado, a ponto de dedicar-se, de doar-se e de trocar experiências, e um gostar de aprender e de incentivar a aprendizagem, um sentir prazer em ver o aluno descobrindo o conhecimento.É digna de nota a capacidade que tem a experiência pedagógica para despertar, estimular e desenvolver em nós o gosto de querer bem e gosto da alegria sem a qual a prática educativa perde o sentido. É esta força misteriosa, às vezes chamada vocação, que explica a quase devoção com que a grande maioria do magistério nele permanece, apesar da imoralidade dos salários. E não apenas permanece, mas cumpre, como pode, seu dever (p. 161).Nessa obra, portanto, expondo os saberes que considera necessários à prática docente, Paulo Freire orienta ao mesmo tempo que incentiva os educadores e educadoras a refletirem sobre seus fazeres pedagógicos, modificando aquilo que acharem preciso, mas especialmente aperfeiçoando o trabalho, além de fazerem a cada dia a opção pelo melhor, não de forma ingênua, mas com certeza de que, se há tentativas, há esperanças e possibilidades de mudanças daquilo que em sua visão necessita mudar.Resumo do livro Pedagogia da AutonomiaA Pedagogia da Autonomia é um livro pequeno em tamanho, mas gigante em esperança e otimismo, que condena as mentalidades fatalistas que se conformam com a ideologia imobilizante de que "a realidade é assim mesmo, que podemos fazer?" Para estes basta o treino técnico indispensável à sobrevivência. Em Paulo Freire, educar é construir, é libertar o ser humano das cadeias do determinismo neoliberal, reconhecendo que a história é um tempo de possibilidades. É um "ensinar a pensar certo" como quem "fala com a força do testemunho". É um "ato comunicante, co-participado", de modo algum produto de uma mente "burocratizada". No entanto, toda a curiosidade de saber exige uma reflexão crítica e prática, de modo que o próprio discurso teórico terá de ser aliado à sua aplicação prática. Ensinar é algo de profundo e dinâmico onde a questão de identidade cultural que atinge a dimensão individual e a classe dos educandos, é essencial à "prática educativa progressista". Portanto, torna-se imprescindível "solidariedade social e política para se evitar um ensino elitista e autoritário como quem tem o exclusivo do "saber articulado". E de novo, Freire salienta, constantemente, que educar não é a mera transferência de conhecimentos, mas sim conscientização e testemunho de vida, senão não terá eficácia.Igualmente, para ele, educar é como viver, exige a consciência do inacabado porque a "História em que me faço com os outros (...) é um tempo de possibilidades e não de determinismo"(p.58). No entanto, tempo de possibilidades condicionadas pela herança do genético, social, cultural e histórico que faz dos homens e das mulheres seres responsáveis, sobretudo quando "a decência pode ser negada e a liberdade ofendida e recusada"(p.62).Segundo Freire, "o educador que 'castra' a curiosidade do educando em nome da eficácia da memorização mecânica do ensino dos conteúdos, tolhe a liberdade do educando, a sua capacidade de aventurar-se. Não forma, domestica"(p.63). A autonomia, a dignidade e a identidade do educando tem de ser respeitada, caso contrário, o ensino tornar-se-á "inautêntico, palavreado vazio e inoperante"(p.69). E isto só é possível tendo em conta os conhecimentos adquiridos de experiência feitos" pelas crianças e adultos antes de chegarem à escola. Para Freire, o homem e a mulher são os únicos seres capazes de aprender com alegria e esperança, na convicção de que a mudança é possível. Aprender é uma descoberta criadora, com abertura ao risco e a aventura do ser, pois ensinando se aprende e aprendendo se ensina. Neste sentido, afirma que qualquer iniciativa de alfabetização só toma dimensão humana quando se realiza a "expulsão do opressor de dentro do oprimido", como libertação da culpa (imposta) pelo "seu fracasso no mundo". Por outro lado, Freire insiste na "especificidade humana" do ensino, enquanto competência profissional e generosidade pessoal, sem autoritarismos e arrogância. Só assim, diz ele, nascerá um clima de respeito mútuo e disciplina saudável entre "a autoridade docente e as liberdades dos alunos, (...) reinventando o ser humano na aprendizagem de sua autonomia"(p.105). Conseqüentemente, não se poderá separar "prática de teoria, autoridade de liberdade, ignorância de saber, respeito ao professor de respeito aos alunos, ensinar de aprender” (p.106-107).A idéia de coerência profissional, indica que o ensino exige do docente comprometimento existencial, do qual nasce autêntica solidariedade entre educador e educandos, pois ninguém se pode contentar com uma maneira neutra de estar no mundo. Ensinar, por essência, é uma forma de intervenção no mundo, uma tomada de posição, uma decisão, por vezes, até uma ruptura com o passado e o presente. Pois, quando fala de "educação como intervenção", Paulo Freire refere-se a mudanças reais na sociedade: no campo da economia, das relações humanas, da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, à saúde(...)"(p.123), em referência clara a situação no Brasil e noutros países da América Latina. Para Freire, a educação é ideológica mas dialogante e atentiva, para que se possa estabelecer a autêntica comunicação da aprendizagem, entre gente, com alma, sentimentos e emoções, desejos e sonhos. A sua pedagogia é "fundada na ética, no respeito à dignidade e à própria autonomia do educando"(p.11). E é "vigilante contra todas as práticas de desumanização"(p.12). É necessário que "o saber-fazer da auto reflexão crítica e o saber-ser da sabedoria exercitada ajudem a evitar a "degradação humana" e o discurso fatalista da globalização"(p.12).Para Paulo Freire o ensino é muito mais que uma profissão, é uma missão que exige comprovados saberes no seu processo dinâmico de promoção da autonomia do ser de todos os educandos. Os princípios enunciados por Paulo Freire, o homem, o filósofo, o Professor que por excelência verdadeiramente promoveu a inclusão de todos os alunos e alunas numa escolaridade que dignifica e respeita os educandos porque respeita a sua leitura do mundo como ponte de libertação e autonomia de ser pensante e influente no seu próprio desenvolvimento. A Pedagogia da Autonomia é sem dúvida uma das grandes obras da humanidade em prol duma educação que respeita todo o educando (incluindo os mais desfavorecidos) e liberta o seu pensamento de tradições desumanizantes - porque opressoras. A esperança e o otimismo na possibilidade da mudança são um passo gigante na construção e formação científica do professor ou da professora que "deve coincidir com sua retidão ética" (p.18). Paulo Freire, um Professor que através da sua vida não só procurou perceber os problemas educativos da sociedade brasileira e mundial, mas propôs uma prática educativa para os resolver. Esta ensina os professores e as professoras a navegar rotas nos mares da educação orientados por uma bússola que aponta entre outros os seguintes pontos cardeais:a rigorosidade metódica e a pesquisa, a ética e estética, a competência profissional, o respeito pelos saberes do educando e o reconhecimento da identidade cultural, a rejeição de toda e qualquer forma de discriminação, a reflexão crítica da prática pedagógica, a corporeificação, o saber dialogar e escutar, o querer bem aos educandos, o ter alegria e esperança, o ter liberdade e autoridade, o ter curiosidade, o ter a consciência do inacabado... Como princípios basilares a uma prática educativa que transforma educadores e educandos e lhes garante o direito a autonomia pessoal na construção duma sociedade democrática que a todos respeita e dignifica.Paulo Freire demonstra a todos os falantes da língua portuguesa, acostumados à maneira masculina de ver o mundo, a qual tem mantido invisível metade da humanidade os seres femininos, que a língua Portuguesa também nos proporciona as possibilidades do uso de linguagem que respeita a comparticipação visível e dignificante da mulher no mundo atual. Para Paulo Freire não existe unicamente o homem, o professor, o aluno, o pai mas também a mulher, a professora, a aluna, a mãe! A impressão geral do livro é que Paulo Freire escreve e discursa, acima de tudo, com amor pelo que faz. O autor vai lentamente introduzindo conceitos que se misturam e se complementam, às vezes de maneira sutil, e em outras ocasiões de maneira objetiva e absolutamente sincera. Uma das principais mensagens que o autor deixa nesta obra, ao meu ver, é o significado do ensinar. É com a mais brilhante vocação que o autor mostra em simples palavras que ensinar é todo um processo de troca entre aluno e professor, onde ambos aprendem, ambos adquirem e sanam dúvidas, ambos crescem como seres humanos. É a mensagem de que para ensinar precisamos, antes de mais nada, ter a consciência da importância e da beleza desta tarefa, da importância de se poder fazer a diferença num sistema socio-econômico-político com certezas às vezes tão opressoras e cruéis àqueles que não dispõe de meios financeiros para obter cultura e informação. Enfim, o professor Paulo Freire nos dá uma aula de ensinar, e nos fornece com um pensamento livre e despojado uma grande inspiração: de que ensinar vale a pena.Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Paulo Freire A temática central deste livro é a formação de professores, inserida numa reflexão sobre a prática educativo- progressista em favor da AUTONOMIA dos alunos (pois FORMAR é muito mais do que simplesmente EDUCAR).Na verdade, o enfoque não foge muito do que poderia ser chamado de "ética do ensino", procurando alertar o leitor sobre a diferença entre treinar, ensinar e educar, temas freqüentes na obra deste autor.Grande parte do livro é dedicada a discussões sobre o quanto as atitudes que o professor toma dentro de sala e fora dela influenciam o que ele passa para seus alunos, englobando desde recomendações sobre a tomada de consciência de que os alunos têm uma cultura e uma curiosidade que precedem a imposição da escola, a discussão sobre a mudança de "curiosidade ingênua" para "curiosidade epistemológica" (que não diferem em sua essência, mas em sua complexidade, pois enquanto aquela se baseia apenas na experiência cotidiana, esta é dotada do rigor metódico, do criticismo), até a consideração dos educandos como seres humanos, portanto, seres histórico-sociais dotados de uma noção mínima de ética. O autor não fecha os olhos para as injustiças que acontecem com os "esfarrapados do mundo". Está ao lado deles, embora não aceite que, para que as injustiças acabem, ações terroristas sejam tomadas.Os professores têm grande responsabilidade ao ensinar e devem ser dotados de ÉTICA (universal do ser humano, sem cinismos), sendo esta intimamente relacionada ao seu preparo científico, combatendo a malvadez da ética de mercado mundial (baseada em lucros). Paulo Freire beira o moralismo quando se põe a discutir sobre os preconceitos embutidos consciente ou insconscientemente no processo educativo. Discute desde frases do tipo "Maria é negra, mas é bondosa e competente" e até justifica sua raiva frente a posturas deste tipo. Beira o moralismo também quando se refere a crianças de escola pública que depredam o próprio patrimônio (ou seja, a escola), porque "como cobrar das crianças um mínimo de respeito (...) se o Poder Público revela absoluta desconsideração à coisa pública?". Ele mesmo percebe isso, e freqüentemente se dirige ao leitor para que ele lembre que não está sendo descrita uma "educação de anjos", mas uma "educação de homens e mulheres". Talvez isso seja uma reflexão de ideologia esquerdista, sobre a qual também existe menção, tendo como foco os professores que se dizem "progressistas" mas se renderam à rotina neocapitalista. Freire parece, então, não utópico, mas excessivamente confiante na vontade das pessoas de se tornarem melhores (i.e. apoiarem atitudes "progressistas"). Existe ainda uma preocupação com a caracterização do meio escolar como um meio de convívio social onde existem exemplos humanos além dos que se encontram nos livros didáticos, e como o professor é um desses exemplos, ele deve ter plena consciência disso, e portanto julgar as próprias ações. Freire não insiste, neste livro, no aspecto teórico da epistemologia, mas sempre recomenda a postura crítica frente a qualquer atitude, seja ela um conteúdo escolar ou não, porque essa postura crítica é o que caracteriza a "curiosidade epistemológica" e permite que, uma vez identificados os erros, sejam feitas mudanças. E essas mudanças são aquelas que levariam à melhoria das condições de vida de cada um, ou ao progresso.Freire tem, no entanto, várias distorções de visão, pois além de várias vezes ser utópico, sugere que se leve discussões políticas para a sala de aula (o que é negativo para a formação de Ciências Sociais, porque a ideologia do professor contamina o que ele se dispuser a discutir) e ainda tem uma visão excessivamente centrada no ser humano, colocando animais (inclusive mamíferos) como seres inferiores (o que é negativo principalmente na formação de Ciências Naturais).Com base nestes apontamentos iniciais, podem ser citadas algumas das considerações sobre a prática docente: 1) Deve existir uma reflexão crítica entre a relação Teoria/ Prática, para que nenhuma perca seu sentido ou importância.2) O professor não pode somente transferir conhecimento, devendo haver uma troca de ensinamentos e aprendizagens entre educador e educando (este, cada vez mais curioso, poderá criar sempre mais). O professor deve estar aberto aos questionamentos e dificuldades dos alunos. Entretanto, se o aluno foi submetido a um falso ensinar, isto não significa que ele está condenado, pois se ele tiver curiosidade e capacidade de se arriscar, pode superar esta falha. 3) É preciso reforçar a capacidade crítica do educando e sua insubmissão, dentro de uma rigorosidade metódica, para que ele não se torne um simples "memorizador". 4) Os conhecimentos dos alunos têm que ser respeitados, principalmente daqueles vindos de classes mais baixas, e aplicá-los aos conteúdos ensinados (REALIDADE DENTRO DO APRENDIZADO). 5) A crítica deve estar inserida no ensino, a partir da curiosidade dos alunos. Esta, inicialmente ingênua, ao ser superada, pode tornar- se epistemológica, com a aplicação da prática pedagógico- progressista. 6) Necessidade de decência e pureza (que não pode ser entendida como puritanismo). Se o ensino for transformado em pura técnica, o educador distancia- se da ética.- Não deve haver discriminação, pois esta prática fere a dignidade do ser humano e não se aplica à democracia. 7) É necessário ensinar o educando a PENSAR CERTO. 8) Deve- se assumir a identidade cultural de cada um, assunção esta incompatível com os pensamentos elitistas. 9) O professor tem que estar ciente de que suas atitudes podem influenciar profundamente a vida de um aluno, positiva ou negativamente. 10) O conhecimento do professor precisa ser vivido por ele, encarnado, para que se transforme em prática aplicável.11) O ensino e sua prática não podem ser tratados como algo definitivo, são passíveis de mudança. O ser humano também é inacabado e justamente por isso, o ato de ensinar/aprender deve ser permanente. 12) É necessária a consciência de que as pessoas podem ser CONDICIONADAS de acordo com o meio. Porém, isto não significa que elas sejam DETERMINADAS por ele (os obstáculos não são eternos). 13) O respeito pela autonomia do aluno é exigido pela ética. Cada um possui particularidades e pensamentos que não podem ser minimizados ou ridicularizados. Se isto acontecer, a ética é transgredida.- Bom senso. Autoridade não pode ser entendida como autoritarismo. O professor tem que entender, em certas ocasiões, pontos falhos do aluno. Ao invés de reprimi-lo, tem que ajudá-lo, com humildade e tolerância. 14) Sobre a avaliação: seria boa uma forma na qual fosse feita junto com os alunos, pois a avaliação é para eles, e não para o educador. 15) Para a realização da docência decente, devem existir condições favoráveis, higiênicas, espaciais e estéticas. O corpo docente deve lutar pelos seus direitos (como um salário digno), isto faz parte da prática de lecionar. 16) Se a educação é ofendida (principalmente nas escolas públicas), o professor deve tomar uma postura política que o permita lutar contra esta ofensa, além de repensar sobre a eficácia das greves. 17) Deve haver alegria e esperança. A esperança faz parte do ser humano, e negá-la contradiz a prática progressista da educação e a ética (sempre contra a frase: "O QUE FAZER? A REALIDADE É ASSIM MESMO"). 18) O futuro deve ser tratado como problema, que pode ser solucionado, e não como inexorável. Com base nisso, o professor tem que estar convencido de que mudanças são possíveis, por exemplo, com relação aos favelados e aos sem- terra. 19) O professor, assim como o aluno, também é movido pela curiosidade. Ela é a mola propulsora do aprendizado e do ensino do educador, da construção e produção de conhecimentos. Proporciona um diálogo entre o professor e o aluno. Porém, este diálogo não deve ser tratado como apenas um vai- vem de perguntas e respostas: momentos explicativos do educador são necessários. 20) É preciso tomar muito cuidado com a relação autoridade- liberdade, sempre ameaçadas pela prática do autoritarismo e da licenciosidade, prática esta que pode acabar levando a disciplina à indisciplina. 21) O educador tem que ser seguro, competente e generoso, atitudes estas que exigem esforço e moralidade. 22) Não se deve falar de cima para baixo, achar que é o dono da verdade. Um educador não deve falar PARA o educando, mas sim COM ele, e isso só é possível quando o educador sabe escutar. Porém, a escuta não deve ser passiva, ela é uma boa forma de se fazer questionamentos sobre o que está sendo exposto, de defender uma opinião própria. Isto pode ser refletido numa maneira crítica e justa de avaliação.Existem, então, após todos estes apontamentos, algumas relações que nunca podem ser desenlaçadas, para que a pedagogia da autonomia seja aplicável: ensino dos conteúdos com formação ética dos educandos, prática com teoria, ignorância com saber (seja de educador ou educando), autoridade com liberdade, respeito ao professor com respeito ao aluno, ensinar com aprender. Todas elas devem ser respeitadas e tratadas com responsabilidade. Aspectos políticos também sempre devem ser levados em conta. Classes dominantes enxergam a educação como IMOBILIZADORA E OCULTADORA de verdades. Entretanto, a educação é uma forma de se intervir no mundo. Contudo, deve ficar muito claro para o educador que a autonomia não vem de um dia para o outro, leva tempo para ser construída. Um grande cuidado também é extremamente necessário ao educador: de que a educação é ideológica e que, dependendo da ideologia, ele pode acabar aceitando idéias perigosas (o mundo é assim, não está assim, por exemplo).E, por fim, deve ficar muito claro que uma docência decente, de qualidade, não se separa da afetividade que o professor tem por seus alunos (embora ela não deva interferir, por exemplo na avaliação, e nem signifique que o educador deva amar todos seus alunos de maneira igual).Freire introduz a Pedagogia da Autonomia explicando suas razões para analisar a prática pedagógica do professor em relação à autonomia de ser e de saber do educando. Enfatiza a necessidade de respeito ao conhecimento que o aluno traz para a escola, visto ser ele um sujeito social e histórico, e da compreensão de que "formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas" (p.. 15). Define essa postura como ética e defende a idéia de que o educador deve buscar essa ética, a qual chama de "ética universal do ser humano" (p. 16), essencial para o trabalho docente. Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, da decisão, da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo-nos como sujeitos éticos (...) É por esta ética inseparável da prática educativa, não importa se trabalhamos com crianças, jovens ou com adultos, que devemos lutar (p. 17 e 19). Em sua análise, menciona alguns itens que considera fundamentais para a prática docente, enquanto instiga o leitor a criticá-lo e acrescentar a seu trabalho outros pontos importantes. Inicia afirmando que "não há docência sem discência" (p. 23), pois "quem forma se forma e re-forma ao formar, e quem é formado forma-se e forma ao ser formado" (p.25). Dessa forma, deixa claro que o ensino não depende exclusivamente do professor, assim como aprendizagem não é algo apenas de aluno. "Não há docência sem discência, as duas se explicam, e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender" (p. 25). Justifica assim o pensamento de que o professor não é superior, melhor ou mais inteligente, porque domina conhecimentos que o educando ainda não domina, mas é, como o aluno, participante do mesmo processo da construção da aprendizagem.Segue sua análise colocando como absolutamente necessário o rigor metódico e intelectual que o educador deve desenvolver em si próprio, como pesquisador, sujeito curioso, que busca o saber e o assimila de uma forma crítica, não ingênua, com questionamentos, e orienta seus educandos a seguirem também essa linha metodológica de estudar e entender o mundo, relacionando os conhecimentos adquiridos com a realidade de sua vida, sua cidade, seu meio social. Afirma que "não há ensino sem pesquisa nem pesquisa sem ensino" (p. 32). Esse pesquisar, buscar e compreender criticamente só ocorrerá se o professor souber pensar. Para Freire, saber pensar é duvidar de suas próprias certezas, questionar suas verdades. Se o docente faz isso, terá facilidade de desenvolver em seus alunos o mesmo espírito.O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres históricos, é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer o mundo (...) Ensinar, aprender e pesquisar lidam com dois momentos: o em que se aprende o conhecimento já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente (p.31). Ensinar, para Freire, requer aceitar os riscos do desafio do novo, enquanto inovador, enriquecedor, e rejeitar quaisquer formas de discriminação que separe as pessoas em raça, classes... É ter certeza de que faz parte de um processo inconcluso, apesar de saber que o ser humano é um ser condicionado, portanto há sempre possibilidades de interferir na realidade a fim de modificá-la. Acima de tudo, ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando. O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros (...) O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que "ele se ponha em seu lugar" ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência (p. 66). É importante que professores e alunos sejam curiosos, instigadores. "É preciso, indispensável mesmo, que o professor se ache repousado no saber de que a pedra fundamental é a curiosidade do ser humano" (p. 96). Faz-se necessário, portanto, que se proporcionem momentos para experiências, para buscas. O professor precisa estar disposto a ouvir, a dialogar, a fazer de suas aulas momentos de liberdade para falar, debater e ser aberto para compreender o querer de seus alunos. Para tanto, é preciso querer bem, gostar do trabalho e do educando. Não com um gostar ou um querer bem ingênuo, que permite atitudes erradas e não impõe limites, ou que sente pena da situação de menos experiente do aluno, ou ainda que deixa tudo como está que o tempo resolve, mas um querer bem pelo ser humano em desenvolvimento que está ao seu lado, a ponto de dedicar-se, de doar-se e de trocar experiências, e um gostar de aprender e de incentivar a aprendizagem, um sentir prazer em ver o aluno descobrindo o conhecimento. É digna de nota a capacidade que tem a experiência pedagógica para despertar, estimular e desenvolver em nós o gosto de querer bem e gosto da alegria sem a qual a prática educativa perde o sentido. É esta força misteriosa, às vezes chamada vocação, que explica a quase devoção com que a grande maioria do magistério nele permanece, apesar da imoralidade dos salários. E não apenas permanece, mas cumpre, como pode, seu dever (p. 161). Nessa obra, portanto, expondo os saberes que considera necessários à prática docente, Paulo Freire orienta ao mesmo tempo que incentiva os educadores e educadoras a refletirem sobre seus fazeres pedagógicos, modificando aquilo que acharem preciso, mas especialmente aperfeiçoando o trabalho, além de fazerem a cada dia a opção pelo melhor, não de forma ingênua, mas com certeza de que, se há tentativas, há esperanças e possibilidades de mudanças daquilo que em sua visão necessita mudar.Uma das tarefas primordiais dos educadores é trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com que devem se aproximar dos objetos cognicíveis. Resgatar nos saberes cotidianos, ainda que vindos de curiosidade ingênua, o estímulo à capacidade criadora do educando. A superação da ingenuidade levando à criticidade segundo pensar correto de Freire demanda profundidade e superficialidade na compreensão e interpretação dos fatos. Quem pensa certo é quem busca seriamente a segurança na argumentação, e é o que discordando do seu oponente, não tem o porquê contrair uma raiva desmedida. Quem observa, o faz segundo um ponto de vista, mas não por isso situa o observador em erro, uma vez que o erro não está em ter um ponto de vista, mas absolutizá-lo e desconhecer que, mesmo do acerto do seu ponto de vista é possível que a razão ética nem sempre esteja com ele. O inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência vital, onde há vida, há inacabamento. A diferença entre um ser inacabado e o ser determinado é que o primeiro muito embora seja condicionado, tem consciência do inacabamento. O ser inacabado sabe que a passagem pelo mundo não é pré-determinada, pré-estabelecida, e o seu “destino” não é um dado mas algo que precisa ser feito e de sua própria responsabilidade.Para ter segurança o professor deve estudar e preparar suas aulas, deve se esforçar para estar à altura de sua profissão. O esforço para atingir estas metas fornece a moral necessária para que o professor transpareça a segurança de seus conhecimentos e sua autoridade nos assuntos que vai ensinar. É ouvindo o aluno com paciência e criticamente que aprendemos a falar com ele. Aprendendo a escutar o educando, ouvindo suas dúvidas, em seus receios, em sua incompetência provisória, faz com que o docente aprenda a falar com ele. O bom professor deve ser curioso e deve provocar curiosidade. Esta curiosidade deve ser incentivada para que mantenha viva a chama do querer saber, do querer entender. Se esta troca não ocorrer, com o tempo o professor se verá diante de uma situação quase estática, paternalista da maneira de ensinar, que impedem o exercício livre da curiosidade. A curiosidade deve ser democrática. A curiosidade que silencia a outra se nega a si própria. A educação deve também servir de meio e forma para transformações sociais, mas deve-se ter consciência da sua indevida utilização como meio de reprodução de ideologias dominantes. Na opinião de Paulo Freire, não é possível ao bom professor ser um ser completamente apolítico, dado que estará expondo suas opiniões e ensinando muitos conceitos baseados em sua visão de mundo. Mas podem demonstrar que é possível mudar. E isto reforça nele ou nela a importância de sua tarefa político–pedagógica.Esta abertura ao querer bem não significa que, como professor, obrigue a querer bem todos os alunos de maneira igual. Significa, de fato, que a afetividade não deve assustar o docente, que não deve ter medo de expressá-la. O professor deve descartar como falsa a separação radical entre seriedade docente e afetividade.Nossa impressão geral do livro é que Paulo Freire escreve e discursa, acima de tudo, com amor pelo que faz. O autor vai lentamente introduzindo conceitos que se misturam e se complementam, às vezes de maneira sutil, e em outras ocasiões de maneira objetiva e absolutamente sincera. Uma das principais mensagens que o autor deixa nesta obra, ao nosso ver, é o significado do ensinar. É com a mais brilhante vocação que o autor nos mostra em simples palavras que ensinar é todo um processo de troca entre aluno e professor, onde ambos aprendem, ambos adquirem e sanam dúvidas, ambos crescem como seres humanos. É a mensagem de que para ensinar precisamos, antes de mais nada, ter a consciência da importância e da beleza desta tarefa, da importância de se poder fazer a diferença num sistema socio-econômico-político com certezas às vezes tão opressoras e cruéis àqueles que não dispõe de meios financeiros para obter cultura e informação. Enfim, o professor Paulo Freire nos dá uma aula de ensinar, e nos fornece com um pensamento livre e despojado uma grande inspiração: de que ensinar vale a pena.

domingo, 24 de maio de 2009

Educar com Arte e a Arte de Educar

William Lara*
A tarefa da educação é delicada porque supõe, em princípio, amor, desprendimento, doçura, firmeza, paciência e decisão.
Diversas obras já foram escritas sobre esse assunto. Quantas vezes professores e pais, cheios de entusiasmo e esperança, compram este ou aquele livro com o intuito de resolver um problema específico que os preocupa em relação à atitude de alunos e de suas crianças?
Ao ler... vê-se tão fácil! Os livros contêm, às vezes, infinidades de teorias, fórmulas e até conselhos que parecem mágicos, com diálogos imaginados e reações quase perfeitas dos alunos e das crianças diante da iniciativa dos professores e dos pais. Se fosse apenas isso, na vida diária...No entanto, a realidade é outra. Quando os professores e os pais tentam colocar em prática alguns desses conceitos que acabam de ler e isso não sai como eles esperavam, pensam: "O que aconteceu? Onde está o erro, se fiz exatamente o que o livro dizia?"Acontece que "educar é uma ciência e uma arte; uma arte porque não tem regras fixas, ou seja, cada caso é diferente, cada circunstância é única".
Um pequeno texto, uma palavra, um gesto, uma pintura, um desenho ou uma ajuda em uma situação em que não esperávamos pode preencher uma vida, mudar seus horizontes e abrir possibilidades para nós mesmos, pois muitas vezes entender, explicitar ou descrever é um bem, um exercício.
Então...
O que podem fazer vocês, professores e pais, quando se sentem desorientados e aflitos? Às vezes querem se dar por vencidos ou descarregar a responsabilidade em um terceiro (coordenadores, psicólogos, etc.). Mas, no fundo, todos sabem que é sua responsabilidade dar aos alunos e filhos as ferramentas e respostas de que necessitam. São os educadores que devem ensinar-lhes o sentido da vida e capacitá-los para vivê-la.
O objeto da educação não está só no sentido literal do verbo “educar”, mas, sim, no modo como o fazemos, a forma como prosseguimos pensando, o tipo de distinções que apresentamos, a moral e a ética dos critérios em que baseamos o caminho a percorrer.
Educar é como ensinar alguém a andar ou a falar (nada de metafórico existe nessa comparação). Andar verticalmente e falar é a educação mais fundamental do modo de ser quem somos: humanos. Aprender a ler, a fazer contas e a dominar a técnica, o conhecimento científico e o processo de desenvolvimento de mais e mais conhecimentos no âmbito de uma comunidade em que estamos imersos é a mesma coisa que aprender a falar. Todos esses aspectos que enquanto adultos nos envolvem são distinções no âmbito do processo fundamental que nós próprios somos: um erguer e um puxar, um indicar de possibilidades, um mostrar de mundos, um incentivar e ajudar, um responsabilizar, autonomizar e cuidar.
Em resumo, educar, desde os primeiros dias até os últimos, é deixar os outros serem humanos — ensinar, no sentido de educar, é muito mais difícil do que aprender. E por que isso é assim? Não apenas porque quem ensina deve dominar uma maior massa de informações e tê-la sempre pronta a ser utilizada, mas porque ensinar requer algo muito mais difícil, complexo e poderoso: deixar aprender.
Quem verdadeiramente ensina passa realmente pelo aprender. Esse aprender, por sua vez, deixa de ser revelado e tem seu fundamento na liberdade individual.
O que aprendemos quando aprendemos a aprender? O que aprendemos quando somos educados? O que é a educação? Com base em que a educação ganha seu sentido, sua pertinência, sua vitalidade e seu caráter decisivo? A resposta é simples: educar é deixar surgir o homem e suas possibilidades.
Por tudo isso, a educação é essencialmente um apontar de possibilidades, de distinções, de relações e de humanidade. Educar é abrir, é erguer, é questionar, é duvidar e ensinar a duvidar, é ser modesto em saber ajudar. Quem deve então educar quem? A resposta é a mesma que foi dada à pergunta “Quem ajuda quem?”.
Viver é aprender. O tempo muda-nos porque tudo nos ensina. Passando o que passa, aprendemos o que fica. O passado fica da forma como para cada um de nós as coisas ganham seus significados, individualmente, em uma vida que é um permanente ter sido e um constante projetar de possibilidades. Uma chamada pelo nome, uma ajuda quando nada se esperava ou uma idéia tocada pelo entusiasmo, pela imaginação e pela vontade de partilhar, um olhar de cumplicidade, uma conversa sobre o que nunca se consegue ler, mas que sempre nos preocupou, ou simplesmente o brilho de um momento, o vislumbre de uma possibilidade que dá um sentido fundo ao que temos sido podem fazer muitas vezes tudo o que mais pode marcar um caminho e uma forma de estar no mundo.
Poderão questionar-se sobre que temas, assuntos, momentos ou histórias estamos aqui para falar...
A resposta é esta: sobre todos.
Na educação, o essencial não é o assunto ou o conteúdo, mas a perspectiva, o modo e a relação. Ou, antes, o objeto da educação não é um tema, como, por exemplo, a Geografia, a História, a Matemática, a Literatura ou as Artes Plásticas. Aquilo sobre o que a educação recai é um modo de ser, que cuida, que toma conta, que se envolve, deixa-se envolver e deixa ser.
Ouvimos muita coisa sobre educação nos dias atuais. Mas, tanto ontem como hoje, o homem é ele mesmo a educação, o ser que se ergueu, que repara e que cuida. Cuidando e ajudando, chamando e sendo cúmplices dessa chamada para a escolha constante das infinitas possibilidades que cada um de nós tem pela frente, podemos abrir o caminho e verdadeiramente educar e educar-nos.
Uma hora é uma medida, uma bola é um passatempo e um conceito é um instrumento, mas cada um de nós é todo o mundo. São todos os mundos do mundo que a educação tem por tema. Assim, a qualquer momento em qualquer mundo, uma palavra, um gesto ou um olhar pode entrar e não mais sair. Se tivermos sabido ou podido preservar e deixar preservar esses momentos, podemos muito bem tocar não apenas naquilo que no momento estamos fazendo, mas toda uma vida — e isso é verdadeiramente o objeto do educar.

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* William Lara é jornalista, pós-graduado em Jornalismo Científico e editor da revista de educação Páginas Abertas - Paulus Editora

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Comentários[2] sobre o pensamento da ética e o filme O Leitor.

Sobre o pensamento da ética e o filme O Leitor, existem muitas semelhanças fundamentais, pois mesmo que atriz principal não soubesse ler, mais para ela
o pensamento ético para ela e que míngüem deveria saber que ela era analfabeta, por esse motivo que ela se submeteu-se em varias situações difícil, para ela, por não ter condições para assumir alguma posição confortável.
O pensamento ético da atriz foi muito forte, a ponto de não se deixa levar por ninguém
Ate mesmo um garoto novo e bonito que gostava muito dela e fazia ela muito feliz, pois ela já era madura para entender de sentimentos, enquanto que o garoto estava descobrindo a fase da adolescência.
Comparando o comportamento da atriz com o pensamento da ética, em algumas partes tem comportamento semelhantes, pois apesar de ela ser uma pessoa não alfabetizada mais dotava de uma boa inteligência sabia o momento de ariscar e não ariscar, por isso suas decisões era tomada baseada no seu pensamento ético de que estava tomando uma decisão correta.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Seminário: As Tendências Tecnicistas e as Teorias Antiautoritárias


As Tendências Tecnicistas

A pedagogia tecnicista tem origem norte-americana. Nela se adota o modelo empresarial, com o objetivo de adequar a educação às exigências da sociedade industrial e tecnológica, ou seja, o ensino é voltado diretamente para produzir indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho. O conteúdo transmitido se baseia em informações objetivas e o método usado na transmissão do conhecimento é o taylorista, no qual as tarefas são divididas entre os técnicos de ensino incumbidos do planejamento racional e do trabalho educacional, cabendo ao professor a execução dos objetivos pré-estabelecidos.
O tecnicismo não se preocupou muito em fundamentos teóricos, mas se constata a influência da filosofia positivista e da psicologia behaviorista. No positivismo analisa-se o fato da não importância do sujeito e sim do objeto estudado e do behaviorismo, que também é de base positivista, as idéias de aplicação do condicionamento e o controle do comportamento.
A tendência tecnicista peca na medida em que tenta levar para o meio pedagógico técnicas e formas de organizações próprios do meio industrial, dessa forma o tecnicismo apresenta uma resposta simplista a uma questão muito mais complexa. No entanto sua contribuição positiva para o meio pedagógico está na exposição das tecnologias pra a apresentação e assimilação do conteúdo, fazendo uso de retroprojetores, aula-vídeo, utilização de slides e datashow, etc.
Na década de 60 o Brasil sofre um grande desenvolvimento industrial, resultante da intervenção do estado e do fluxo de capital internacional no país, contudo o sistema educacional vigente não atendia as necessidades de recursos humanos A implantação da Escola Tecnicista no Brasil veio a partir da reforma do ensino com a lei 5692/71, onde apesar de nunca ter ocorrido de fato uma reforma, os professores tiveram de adotar decretos-leis, que os tornou meros repassadores de um conteúdo programado que visava principalmente a formação técnica da massa trabalhadora da nação.



TEORIAS ANTIAUTORITÁRIAS

Contra a autoridade
A principal crítica feita à escola tradicional foi os seus modelos autoritários impregnados de dogmas e regras, sendo denominada pejorativamente de “escola-quartel”. Assim, pedagogos, desejosos de reverter essa situação, recusam o exercício do poder e volta-se para uma educação em liberdade e para a liberdade. Todo aluno deveria ser educado sem pressão para obter uma maturidade sadia.
Tais pedagogos pertenciam a várias tendências: liberais, marxistas e anarquistas. Todos centrando a aprendizagem no aluno e não no professor. Alguns adotaram a psicanálise de Freud, médico neurologista que não foi propriamente um teórico antiautoritário mas sua análise foi essencial para compreender o comportamento humano.
Segundo ele, a energia que rege nossos atos é pulsional e encontra-se na instância psíquica id e o superego é nossa consciência moral influenciada externamente pela cultura. O ego maduro equilibra essas duas forças antagônicas, mas quando a educação é extremamente autoritária o superego se fortalece e as forças pulsionais são ocultadas, favorecendo a repressão e a formação da personalidade neurótica. Assim, as novas idéias dos alunos eram “abafadas” para não escandalizar a sociedade.
As teorias antiautoritárias também foram influenciadas pelos anarquistas, os quais recusavam qualquer autoridade e instituições que colocavam empecilhos para a autonomia. Para eles o homem poderia organizar a sociedade pela autogestão, processo em que as decisões são tomadas nos níveis mais simples e depois ampliadas para instâncias mais amplas.

Características gerais
Todas as características da metodologia antiautoritária estão centradas em ir contra a pedagogia tradicional, então se tem como princípio a ênfase no aluno, fazendo com que esse aluno desenvolva o autocontrole. No centro das tendências antiautoritárias existe também o desprezo a toda e qualquer forma de exercício do poder, por isso a idéia de que o docente deve dirigir e condicionar a aprendizagem está descartada, ele é apenas um orientador, um facilitador dessa aprendizagem. O professor sai do centro das atenções e dá lugar ao aluno.
Nessa pedagogia não existe conteúdo próprio, ele parte dos interesses dos alunos, dos caminhos que eles queiram seguir, já que nessa forma de educar o que realmente importa é o que os alunos absorvem e não o que o professor ensina, a educação está calcada na autogestão.
Na metodologia antiautoritária cultiva-se a cooperação do conhecimento com a valorização das “comunidades de aprendizagem”, nas quais os alunos interagem uns com os outros, e onde são incentivados a buscar as respostas de interesse coletivo, além de incentivar o bom comportamento social.
Nessas tendências são descartadas todas as formas de avaliação, sem a aplicação de provas, notas, etc, já que não há conteúdo próprio, além de que deixaria clara a demonstração de poder do professor. E esse método também é abolido porque quer se estimular a responsabilidade com o uso da auto-avaliação e da autocrítica.

Principais representantes
Carl Rogers (1902 – 1987)
Para Roger, cada pessoa possui em si mesmo as respostas para as suas inquietações e a habilidade necessária para resolver os seus problemas. O papel do educador seria criar condições para o aluno se guiar por conta própria, sendo na verdade um facilitador e oferecendo recursos. Ele considera o ato educativo como um processo relacional, transformando-o em uma “comunidade de aprendizagem”. Porém, existe um limite para tal liberdade e este é imposto pelas exigências da vida. Por exemplo, um médico precisar aprender química
A. S. Neil (1883 – 1973)
Dirigiu a escola de Summerhill chegando a escrever suas experiências em tal escola no livro “Liberdade Sem Medo”. Seus métodos incluíam a abolição dos exames e da obrigatoriedade de assistir as aulas. As regras eram escolhidas pelos próprios alunos, em assembléia. Neil entende que a educação não deve reprimir as emoções para poder, desta forma, preparar as crianças para serem adultos felizes. Para continuar nesse ideal, as aulas são sempre optativas, pois, impor uma aula seria comparável à forma autoritária de um governo que obriga a adotar uma religião.
Francisco Ferrer Guardia (1859 – 1909)
Considerou o papel social da escola no ambiente de transformações políticas, criticando a atuação do Estado e da Igreja na educação. Para Ferrer, o papel do professor seria mais intenso nos primeiros anos e depois iria, gradualmente, se tornando menos diretivo. Fundou a Escola Moderna de Barcelona, aceitando estudantes vindos de famílias com as mais diversas ideologias e rendas.

As pedagogias institucionais
A pedagogia institucional antiautoritária é baseada em um caráter dinâmico,ou seja ,que está sempre em análise para se renovar. Desta forma, esta pedagogia tenta revelar contradições e fazer diferente do processo tradicional.
Ao fazer essa busca pela inovação a teoria abre as barreiras que se voltam para o aluno buscando analisar também o contexto em que esse aluno se insere assim sua análise ultrapassa as dimensões da pessoa e busca o que forma o ser.
Os elementos que embasam as pedagogias tradicionais são oposição à escola tradicional, negação à coerção, psicanálise de Freud, autogestão. Os principais propagadores dessas pedagogias foram Michel Lobrot, Aïda Vasquez e Fernand Oury.
No Brasil, a teoria não-diretiva foi trazida pelos imigrantes espanhóis e italianos que influenciados pelos ideais anarquistas levaram suas idéias para jornais, sindicatos,bibliotecas e escolas difundindo assim a pedagogia. Nessa época o maior representante no Brasil foi José de Oiticica Professor do Colégio Pedro 2º, que ousou aplicar os princípios libertários em suas aulas, seu fim foi o exílio.
As principais críticas sobre essa teoria gira em torno da sua difícil política e por conseguinte a sua permanência uma vez que se abstém da burocracia,da delegação de poder gera uma propensão a desordem e desorganização, além disso pode levar ao individualismo e a uma falsa idéia de liberdade aos alunos já que não estão sobre os cuidados do professor a toda hora. Contudo, o questionamento do poder e da repressão,assim como o amadurecimento de forma autodidata são elementos que podemos extrair como exemplos dessa teoria.

Repercussões e críticas
Como tais movimentos possuem um espírito duro, contrários à toda burocracia, negando o poder e seus representantes, geralmente não tem como manter viva a sua atuação. Os movimentos são espontâneos e de muita força como a crítica dos estudantes da Sorbonne que atingiu proporções mundiais, significando uma crítica à instituição escolar e à civilização contemporânea. Baseadas na autonomia, diálogo e autogestão, as teorias antiautoritárias provocaram uma reflexão sobre o poder que muitas vezes camufla a repressão nas escolas. Porém, as inevitáveis críticas existem pelo fato de igualar o professor à figura do aluno e por não repassar a cultura acumulada. O risco de deixar os alunos aos seus desejos imediatos seria grande pois nem sempre eles conseguiriam livrar-se sozinhos dos preconceitos e pressupostos característicos da ideologia.



quinta-feira, 23 de abril de 2009

Escola Nova e o movimento da revolução do ensino.


No Brasil, as idéias da Escola Nova foram inseridas em 1882 por Rui Barbosa (1849-1923). O grande nome do movimento na América foi o filósofo e pedagogo John Dewey (1859-1952). John Dewey, filósofo norte americano influenciou a elite brasileira com o movimento da Escola Nova. Para John Dewey a Educação, é uma necessidade social. Por causa dessa necessidade as pessoas devem ser aperfeiçoadas para que se afirme o prosseguimento social, assim sendo, possam dar prosseguimento às suas idéias e conhecimentos. No século XX, vários educadores se evidenciaram, principalmente após a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932. Na década de 30, Getúlio Vargas assume o governo provisório e afirma a um grupo de intelectuais o imperativo pedagógico do qual a revolução reivindicava; esses intelectuais envolvidos pelas idéias de Dewey e Durkheim se aliam e, em 1932 promulgam o Manifesto dos Pioneiros, tendo como principal personagem Fernando de Azevedo. Grandes humanistas e figuras respeitáveis de nossa história pedagógica, podem ser citadas, como por exemplo Lourenço Filho (1897-1970) e Anísio Teixeira (1900-1971). A Escola Nova foi um movimento de renovação do ensino que foi especialmente forte na Europa, na América e no Brasil, na primeira metade do século XX . O escolanovismo desenvolveu-se no Brasil sob importantes impactos de transformações econômicas, políticas e sociais. O rápido processo de urbanização e a ampliação da cultura cafeeira trouxeram o progresso industrial e econômico para o país, porém, com eles surgiram graves desordens nos aspectos políticos e sociais, ocasionando uma mudança significativa no ponto de vista intelectual brasileiro. Na essência da ampliação do pensamento liberal no Brasil, propagou-se o ideário escolanovista. O escolanovismo acredita que a educação é o exclusivo elemento verdadeiramente eficaz para a construção de uma sociedade democrática, que leva em consideração as diversidades, respeitando a individualidade do sujeito, aptos a refletir sobre a sociedade e capaz de inserir-se nessa sociedade Então de acordo com alguns educadores, a educação escolarizada deveria ser sustentada no indivíduo integrado à democracia, o cidadão atuante e democrático. Para John Dewey a escola não pode ser uma preparação para a vida, mas sim, a própria vida. Assim, a educação tem como eixo norteador a vida-experiência e aprendizagem, fazendo com que a função da escola seja a de propiciar uma reconstrução permanente da experiência e da aprendizagem dentro de sua vida. Então, para ele, a educação teria uma função democratizadora de igualar as oportunidades. De acordo com o ideário da escola nova, quando falamos de direitos iguais perante a lei, devemos estar aludindo a direitos de oportunidades iguais perante a lei.



Autora: Amelia Hamze

Educadora Profª UNIFEB/CETEC e FISO - Barretos

Seminários

Resumos dos seminários... Escola tradicional e Escola Nova


Fundamentos Sócio Filosóficos da Educação

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1989, p. 157-194 e 202 - 218.



A Escola Tradicional

Alunas: Juliana Galvão Bezerra (Licenciatura em Ciências Biológicas)
Luana Gabriela Serafim da Silva (Licenciatura em Ciências Biológicas)
Luciana (Licenciatura em Geografia)


Baseada em uma educação magistrocêntrica, onde a centralização é voltada para o professor e para a transmissão de conhecimentos, eis que surge a Escola Tradicional, a partir do Renascimento e da Idade Moderna.
Como uma Escola voltada para os interesses da classe dominante de sua época, a Escola Tradicional vem a apresentar um dos conceitos mais rígidos de Educação, no qual, ordem, disciplina e submissão são as palavras-chaves que regem seus princípios.
A centralização do conhecimento na figura do professor e a memorização do conteúdo transmitido são aspectos cruciais para este modelo pedagógico que vem a “criar” uma geração de alunos passivos, vistos como uma “caixa acumuladora”, onde, quanto mais conhecimento acumulado (decorado, para ser sincero), maior a capacidade intelectual do mesmo.
Uma Escola onde, de maneira compensativa (ou repreensiva) fazia-se uso de métodos de premiações e punições como forma de inferir o adquirimento do conhecimento transmitido.
Várias foram suas faces apresentadas que adequaram-na às exigências históricas ao longo dos tempos, do mesmo modo que vários foram os participantes e contribuintes deste período que empenharam-se, de forma significativa, para quebrar as barreiras impostas pelo modelo pedagógico da Escola Tradicional e para transformar a Educação de um simples modo de transmissão de conhecimentos para uma forma importante de formação do aluno, tanto intelectual e quanto como pessoa, dentre os quais pode-se destacar: Lutero, Erasmo, Rebelais, Montaigne, Comênio, Kant, Herbart, entre vários outros.
Com base no que foi citado anteriormente, apresentara-se, de forma mais aprofundada, o Seminário sobre a Escola Tradicional. Apresentação esta que tem como principal objetivo mostrar uma visão panorâmica sobre o que foi o modelo pedagógico da Escola Tradicional e o que ele ainda representa para a pedagogia atual, abordando temas como suas principais características (de um modo geral), seu contexto histórico, seus pontos positivos e negativos, suas influências e interferências na atualidade, entre vários outros aspectos.

Natal / RN, Abril de 2009.



O PENSAMENTO PEDAGÓGICO DA ESCOLA NOVA

Grupo: Amalya Gomes, Celsulla Dantas, Janaína Gomes, Thiago Araújo e Francisco das Chagas.


O QUE É:

Considerado o mais vigoroso movimento de renovação da educação depois da criação da escola pública burguesa, que fundamenta o ato pedagógico na ação.

ORIGEM:

Na “Escola Alegre” (Feltre – 1378-1446), seguindo a pedagogia romântica e naturalista de Rousseau, tomando forma concreta no séc. XX, influenciando realmente os sistemas educacionais e a mentalidade dos professores.

O QUE PROPUNHA A TEORIA DA ESCOLA NOVA?

Que a educação se renovasse para instigar a mudança social.

COMO PERCEBIA A ESCOLA E A EDUCAÇÃO?

Valorizava a autoformação e a atividade espontânea da criança. O aluno deveria ser o autor da sua própria experiência através dos métodos ativos e criativos, que significaram o maior avanço da Escola Nova.

PIONEIROS DA ESCOLA NOVA:

JOHN DEWEY (1859-1952): primeiro a formular o novo ideal pedagógico afirmando que o ensino deveria se dar pela ação e não pela instrução, que a educação continuamente reconstruía a experiência concreta, ativa, produtiva, de cada um, uma educação, pragmática, instrumentalista. Buscava a convivência democrática, sem, entretanto, por em questão a sociedade de classes.
Para Dewey a educação poderia ajudar a resolver problemas das experiências concretas da vida ajudando o aluno a pensar sobre eles. Este pensar, para Dewey, tem cinco estágios: 1º) uma necessidade sentida; 2º) a análise da necessidade; 3º) as alternativas de solução do problema; 4º) a experimentação de várias soluções; 5º) a ação final de maneira científica. Uma visão de educação como processo e não como produto.


ADOLPHE FERRIÈRE (1879-1960): educador suíço, foi um dos maiores divulgadores da escola ativa e da educação nova na Europa. Criticou a educação tradicional acusando-a de trocar a alegria do aprendiz pela inquietude, o regozijo pela gravidade, o movimento espontâneo pela imobilidade e as risadas pelo silêncio. Fundou o Birô Internacional das Escolas Novas com a preocupação não só de divulgar a nova pedagogia, mas também de sintetizar correntes pedagógicas distintas com a preocupação de colocar o aluno no centro das perspectivas educativas. O Birô aprovou trinta itens considerados básicos para a nova pedagogia, cuja síntese afirmava que a) a educação deveria ser integral (intelectual, moral e física); b) ativa; c) prática (com trabalhos manuais obrigatórios, individualizada); e d) autônoma (campestre em regime de internato e co-educação).

ESCOLANOVISTAS QUE SE DESTACARAM PELOS MÉTODOS CRIADOS:

WILLIAM HEADR KILPATRICK (1871-1965): discípulo de Dewey, destaca-se pelo seu método de projetos, que poderiam se manuais, de descoberta, de competição e de comunicação. Os projetos teriam quatro etapas: designar o fim, prepará-lo, executá-lo e avaliá-lo. Os projetos ainda podem ser: de produção; de consumo; de resolução de algum problema e de aperfeiçoamento de alguma técnica.

OVIDE DECROLY (1871-1931): criou o método dos Centros de Interesses (a família, o universo, o mundo animal e vegetal, etc...), os quais desenvolveriam a observação, a associação e a expressão. Distinguem-se dos projetos porque não visam um fim, a construção de algo.

MARIA MONTESSORI (1870-1952): transpõe para as crianças normais seu método de recuperação de crianças deficientes com base na utilização de jogos educativos para trabalhar o tato, a pressão, cores, formas, espaços, etc.... Pela primeira vez na história da educação construiu-se ambientes condizentes com o tamanho das crianças.

ÉDUARD CLAPARÈDE (1873-1940): deu à escola ativa o nome de educação funcional. A atividade deveria ser vital ao homem, ser individualizada e ao mesmo tempo social e socializadora.

JEAN PIAGET (1896-1980): pai da teoria epistemológica, estudou a natureza do desenvolvimento da inteligência na criança. Defendeu o método da observação da criança através da pedagogia experimental que mostrasse como a criança organiza o real. Deve-se colocar a criança para pensar. O professor deve respeitar as etapas do desenvolvimento da criança.

ROGER COUSINET (1881-1973): desenvolveu o método do trabalho por equipes que deveria ter as seguintes etapas: a) acumular informações através de pesquisa; b) exposição e elaboração das informações; c) correção dos erros; d) cópia individual dos resultados; e) desenho individual; f) escolha do desenho mais significativo para arquivo da sala; g) leitura do trabalho de grupo; h) elaboração de uma ficha resumo.

COMENTÁRIO GERAL:

Embora não haja uma relação direta entre a Escola Nova e o Tecnicismo pedagógico, o desenvolvimento da tecnologia de ensino deve muito à preocupação escolanovista com os métodos e técnicas educacionais, a exemplo de Skinner (1904-1990), famoso pela suas técnicas psicológicas de condicionamento humano, aplicadas ao ensino-aprendizagem. No mundo e no Brasil muitas escolas com nomes diferenciados revelam a influência da filosofia educacional da escola nova (escolas livres, comunitárias, vocacionais, colégios de aplicação ... ). A presença na sala de aula do rádio, da televisão, do cinema, do computador, etc..., se deve aos centros de interesses da Escola Nova.


CRÍTICA:

Na segunda metade do séc. XX uma visão crítica a respeito da educação da Escola Nova aponta que esta acompanhou e serviu ao capitalismo. Afirma que toda educação é política e que a Escola Nova constituiu-se em função da educação moderna preparando a mentalidade, a ideologia e a conduta das crianças para reproduzirem a sociedade e não para transformá-la. A rentabilidade do aluno serviria à sociedade burguesa – preparar o jovem para a atividade prática, o trabalho, a competição. Foram poucos os escolanovistas que evidenciaram a exploração do trabalho e a dominação política, própria das sociedades de classe. Entretanto, alguns autores críticos, como Paulo Freire (1921), afirma que a educação nova não foi um mal em si, como dizem alguns “conteudistas”. De certa forma ela representou avanços na história das idéias e práticas pedagógicas.
O movimento da Escola Nova demonstra a consideração às teorias positivistas e marxistas daí constituir-se num movimento complexo e contraditório não podendo ser confundido com um movimento liberal. Chegou a influenciar a Escola Socialista, popular e autônoma e alguns teóricos progressistas atuais (Suchodolski e Snyders), que apontam uma perspectiva integradora de diversas correntes anteriores.



terça-feira, 7 de abril de 2009

Pensamentos da ética

Todo olhar sobre a ética deve perceber que o ato moral é um ato individual de religação: religação com o outro, religação com uma comunidade, religação com a sociedade e, no limite, religação com a espécie humana (grifo nosso).

O sujeito é compreendido então como um organismo complexo capaz de pensamento. E que pensa a partir de uma tensão estabelecida entre o princípio de exclusão e o princípio de inclusão. O princípio de exclusão é antagônico à alteridade e é o responsável pela identidade singular de cada sujeito. Este princípio se expressa como egocentrismo, o qual pode vir a se tornar egoísmo, favorecendo a origem de muitos atos eticamente condenáveis. O princípio de inclusão rivaliza com o de exclusão e é ele que faz o indivíduo sentir-se parte de uma coletividade. Ele transforma o eu em nós e pode se expressar na forma de altruísmo, favorecendo atos eticamente desejáveis. O sujeito moral vive, então, oscilando entre o caráter vital do egocentrismo e o potencial existente em cada sujeito para a prática do altruísmo.
O ato moral é, neste sentido, um ato de religação do indivíduo com a sociedade e com a espécie humana, um ato capaz de provocar regeneração nas relações humanas. O dever moral parece, portanto, emanar de uma realidade transcendente, de aspecto semelhante ao religioso.
Tendo em mãos a consciência dessas interações entre o transcendental e o mundano, entre o os elos que ligam o sujeito, a sociedade e a espécie, Morin faz um convite a trabalhar para "pensar bem". O bom pensamento é o pensamento que toma a condição humana em sua complexidade e nutre, dessa forma, a capacidade de julgamento ético do sujeito. Seu princípio de religação orienta os sujeitos na direção da solidariedade. O reconhecimento das incertezas futuras quanto às conseqüências do ato ético, a ecologia da ação convida ao desenvolvimento da virtude da prudência e à utilização do princípio da precaução na análise das circunstâncias e contextos. Estas últimas considerações se estendem às discussões sobre as relações entre ciência, ética e política na segunda parte do livro, onde aparece com mais veemência a crítica de Morin ao marxismo e à sua versão stalinista na antiga União Soviética.
A ética de Morin permanece, portanto, ligada a uma filosofia do espírito. Também se poderia dizer que a moral é “natural” ao homem, pois corresponde à natureza do indivíduo e à sociedade. Mas é preciso corrigir essa afirmação, visto que indivíduo e sociedade possuem uma dupla natureza. O indivíduo tem o princípio poderoso do egocentrismo, que o estimula ao egoísmo, enquanto que a sociedade comporta rivalidade, competição, lutas entre egoístas. As sociedades não conseguem impor as suas normas éticas a todos os indivíduos. Estes não podem ter comportamento ético que sempre superem o egoísmo. Esse problema se torna mais grave nas sociedades muito complexas nas quais a integração dos vínculos tradicionais de solidariedade é inseparável do desenvolvimento do individualismo. (Morin p. 22).


A mente humana é egoísta, enquanto a sociedade trata esse egoísmo como uma rivalidade que é entendida do lado competitivo.