terça-feira, 7 de abril de 2009

Pensamentos da ética

Todo olhar sobre a ética deve perceber que o ato moral é um ato individual de religação: religação com o outro, religação com uma comunidade, religação com a sociedade e, no limite, religação com a espécie humana (grifo nosso).

O sujeito é compreendido então como um organismo complexo capaz de pensamento. E que pensa a partir de uma tensão estabelecida entre o princípio de exclusão e o princípio de inclusão. O princípio de exclusão é antagônico à alteridade e é o responsável pela identidade singular de cada sujeito. Este princípio se expressa como egocentrismo, o qual pode vir a se tornar egoísmo, favorecendo a origem de muitos atos eticamente condenáveis. O princípio de inclusão rivaliza com o de exclusão e é ele que faz o indivíduo sentir-se parte de uma coletividade. Ele transforma o eu em nós e pode se expressar na forma de altruísmo, favorecendo atos eticamente desejáveis. O sujeito moral vive, então, oscilando entre o caráter vital do egocentrismo e o potencial existente em cada sujeito para a prática do altruísmo.
O ato moral é, neste sentido, um ato de religação do indivíduo com a sociedade e com a espécie humana, um ato capaz de provocar regeneração nas relações humanas. O dever moral parece, portanto, emanar de uma realidade transcendente, de aspecto semelhante ao religioso.
Tendo em mãos a consciência dessas interações entre o transcendental e o mundano, entre o os elos que ligam o sujeito, a sociedade e a espécie, Morin faz um convite a trabalhar para "pensar bem". O bom pensamento é o pensamento que toma a condição humana em sua complexidade e nutre, dessa forma, a capacidade de julgamento ético do sujeito. Seu princípio de religação orienta os sujeitos na direção da solidariedade. O reconhecimento das incertezas futuras quanto às conseqüências do ato ético, a ecologia da ação convida ao desenvolvimento da virtude da prudência e à utilização do princípio da precaução na análise das circunstâncias e contextos. Estas últimas considerações se estendem às discussões sobre as relações entre ciência, ética e política na segunda parte do livro, onde aparece com mais veemência a crítica de Morin ao marxismo e à sua versão stalinista na antiga União Soviética.
A ética de Morin permanece, portanto, ligada a uma filosofia do espírito. Também se poderia dizer que a moral é “natural” ao homem, pois corresponde à natureza do indivíduo e à sociedade. Mas é preciso corrigir essa afirmação, visto que indivíduo e sociedade possuem uma dupla natureza. O indivíduo tem o princípio poderoso do egocentrismo, que o estimula ao egoísmo, enquanto que a sociedade comporta rivalidade, competição, lutas entre egoístas. As sociedades não conseguem impor as suas normas éticas a todos os indivíduos. Estes não podem ter comportamento ético que sempre superem o egoísmo. Esse problema se torna mais grave nas sociedades muito complexas nas quais a integração dos vínculos tradicionais de solidariedade é inseparável do desenvolvimento do individualismo. (Morin p. 22).


A mente humana é egoísta, enquanto a sociedade trata esse egoísmo como uma rivalidade que é entendida do lado competitivo.

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